O desertor enforcado no Toural em Guimarães (Crónica de Paulo Freitas do Amaral)

No dia 29 de Agosto de 1639 um soldado português chamado António Gonçalves da zona do Porto foi executado no Toural (1) em Guimarães por deserção.

Alistado no exército da guerra ao serviço de Filipe, Rei de Espanha, este Homem desertou ao haver ordem para ir para Cádis combater. O desertor estava na cadeia da Correição (ver meu artigo anterior) junto ao Terreiro da Misericórdia.

À hora marcada o "pregoaeiro da Justiça" iniciava a procissão indo buscar o preso à cadeia da Correção até ao Toural lançando de vez em quando o fatídico pregão da sentença.

Juntamente com o Provedor da Misericórdia e os capelães das Irmandades davam inicio então a um sinistro cortejo ao som de uma ladainha em que a letra da canção era a seguinte ;

"Ne recordaris pecata mea Domine"

Reproduzo aqui um auto deste acontecimento que teve a participação do povo em massa;

"Aos 29 dias do mês de Agosto de 1639 em esta Vila de Guimarães, no Toural dela, que é rócio público, lugar donde estava para se fazer execução de António Gonçalves, soldado, aonde foi vindo acompanhado da Santa Misericórdia e padres e mais actos costumados..., e chegando ao pé da forca com a alva vestida e o Cristo nas mãos, e estando aí o Sr. Mestre de Campo Álvaro de Sousa, perante ele (com) pareceu o Dr. Rui Gomes Golias e procurador do António Gonçalves, e em altas vozes e com requerimentos à vista do povo, requereu ao dito Sr. Mestre de Campo lhe mandasse tomar seu requerimento e apelação, propondo-lhe em suma a inocência de António Gonçalves..."(2)

O episódio é triste mas é veridico. A pena de morte em Portugal nesta altura ainda estava em vigo, só sendo abolida em 1 de Julho de 1867

(1) - A forca foi levantada no rocio do Toural no ano referido. O códice municipal n 1310, fl.62 V, alude à despesa feita com este instrumento de pena de morte

(2) Ver Antigamente..., do A., págs 113 a 11

Paulo Freitas do Amaral - Licenciado e Pós graduado em História