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O restauro absurdo da fachada de Nossa Senhora de Oliveira


O restauro da igreja de Nossa Senhora de Oliveira, realizado há décadas, permanece como um dos episódios mais controversos da história do património português. Entre as intervenções, destaca-se o ato incompreensível de tapar a rosácea que, durante séculos, decorou a fachada principal e constituía um dos elementos mais expressivos da arquitetura românica do templo.

A rosácea não era apenas um ornamento: num edifício de linhas austeras e sólidas, desempenhava um papel crucial ao permitir a entrada de luz e ao conferir ritmo e profundidade à fachada, quebrando a severidade das pedras e criando um ponto de referência visual e simbólico. Ao ocultá-la, o restauro apagou um fragmento vital da memória artística e espiritual da igreja, eliminando um traço que ligava os fiéis ao seu passado e à tradição.

Esta intervenção revela a perigosa tendência de tratar o património histórico com soluções simplistas, muitas vezes motivadas por conveniência ou por interpretações estéticas questionáveis. Tapar a rosácea não foi apenas um equívoco: foi uma mutilação, uma decisão que ignorou por completo a autenticidade do edifício e o dever de preservar o passado.

A fachada de Nossa Senhora de Oliveira conserva, assim, uma cicatriz visível do descuido histórico: um alerta de que a preservação não se reduz a manter paredes de pé, mas exige respeito pelos sinais que cada pedra carrega e pelo diálogo entre gerações através do património.


Paulo Freitas do Amaral

Professor, Historiador e Autor

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