Dia internacional dos museus em Guimarães (Álvaro Nunes)
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- 17 de mai. de 2021
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A 18 de maio comemora-se mais um Dia Internacional dos Museus, criado por proposta do Conselho Internacional dos Museus (ICOM), um organismo afeto à UNESCO, que desde 1977 celebra a efeméride.
Ora, visitar um dos muitos “templos de musas” da cidade é portanto o serviço mínimo exigido e o nosso repto, que constitui também uma viagem pela História do país e da cidade. Porém, escolhemos o Museu Alberto Sampaio como visita preferencial, uma vez que 1928 celebrou 90 anos de vida e é um dos mais belos, conforme nos declara este enigmático visitante:
“Declara já o viajante que este é um dos mais belos museus que conhece. Outros terão riqueza maior, espécies mais famosas, ornamentos de linhagem superior: o Museu de Alberto Sampaio tem equilíbrio perfeito entre o que guarda e o envolvimento espacial e arquitetónico. Logo o claustro da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, pelo seu ar recolhido, pela irregularidade do traçado, dá ao visitante vontade de não sair dali, de examinar demoradamente os capitéis e os arcos, e como abundam as imagens rústicas ou sábias, tão belas, há grande risco de cair o visitante em teimosia e não arredar pé. O que vale é acenar-lhe o guia com outras formosuras lá dentro das salas, e realmente não faltam, tantas que seria necessário um livro para descrevê-las: o altar de prata de D. João I e o loudel que vestiu em Aljubarrota, as Santas Mães, a oitocentista Fuga para o Egipto, a Santa Maria a Formosa de Mestre Pero, a Nossa Senhora e o Menino de António Vaz, com o livro aberto, a maçã e as duas aves, a tábua de frei Carlos representando S. Martinho, S. Sebastião e S. Vicente e mil outras maravilhas de pintura, escultura, cerâmica e prataria. É ponto assente para o viajante que o Museu Alberto Sampaio contém uma das mais preciosas coleções de imaginária sacra existente em Portugal, não tanto pela abundância, mas pelo altíssimo nível estético da grande maioria das peças, algumas verdadeiras obras-primas. Este museu merece todas as visitas, e o visitante jura de cá voltar de todas as vezes que em Guimarães estiver. Poderá não ir ao castelo, nem ao palácio ducal, mesmo estando prometido: aqui é que não faltará. Despedem-se o guia e o viajante, cheios de saudades um do outro, porque outros visitantes não havia. Porém, parece que não faltam lá mais para o verão”.
Realmente, este viajante é nada mais nada menos que José Saramago, o nosso Nobel da Literatura em 1998 e o texto, um excerto respigado da sua obra “Viagem a Portugal”. Por isso, nada melhor para nos convencer, até porque neste dia as visitas são gratuitas e o acervo é riquíssimo.
E seria ainda mais rico, se a segurança, uma dos problemas dos museus, tivesse funcionado. De facto, todos nos recordamos que esta coleção do museu era mais vasta e preciosa, pois o este possuía à sua guarda um valiosíssimo tesouro em ouro e pedras raras, que seria roubado em 16 de novembro de 1975 por um comando do Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP), ligado à direita radical.
Com efeito, entre a sua imensa riqueza artística e viagem pela nossa História, aqui documentada pelo escritor, destacam-se ainda as coleções de azulejos e faianças do século XII ao XIX, a coleção de ourivesaria, entra a qual se destaca o cálice românico de D. Sancho I. Sobressai ainda o Tríptico da Natividade, uma das mais preciosas peças de arte gótica europeia, talvez um dos mais preciosos “presépios” portugueses”. Trata-se de um altar portátil em madeira de cedro, revestido em prata dourada e esmaltada, semelhante a um retábulo de pintura, que representa no corpo central o nascimento de Jesus e nas suas abas laterais outros episódios bíblicos: à esquerda, no painel superior, a Anunciação, o Anjo e a Vigem e em baixo a Visitação; e à direita, na parte superior, anunciação aos pastores da Boa Nova, e em baixo a Adoração dos Magos, com um dos reis ajoelhados e os outros dois de pé, todos voltados para a cena central da Natividade.
De facto, na parte central, representa-se a Virgem deitada num leito, estendendo os braços para segurar o Menino, com S. José à direita, enquanto por cima do cortinado de fundo, espreitam as cabeças do burro e do boi e dois anjos nas extremidades.
Esta peça artística, com dimensões aproximadas de 1,320 de altura e 1,720 de largura, foi oferecida pelo rei D. João I a Nossa Senhora da Oliveira como pagamento da promessa pela vitória na Batalha de Aljubarrota (1385) e terá presumivelmente sido recolhida como troféu entre as pertenças do rei de Leão e Castela, deixadas no campo de combate.
Além disso, presentemente, o museu apresenta uma coleção de mais de meia centena demoníacos bonecos em barro, executados por artesãos minhotos, muitos dos quais com base em desenhos de F. Capela Miguel, denominada “Expo Diabólica” – Uma Expressão da Cultura Popular. Paralelamente, estão expostas gravuras de J. Salgado Almeida relativas à obra “Contos e Lendas do Diabo em Guimarães”, livro apresentado na altura, que por artes do diabo nos facultam visões antropológicas que não lembram ao diabo! …
No entanto, para além deste museu, Guimarães tem intramuros outras grandiosas preciosidades. Por exemplo, na Sociedade Martins Sarmento podes contemplar a exposição de pintura “Na distância de um olhar”, de Pedro Calapez. Mas, simultaneamente, fruir a sua importante Biblioteca com cerca de 100 mil volumes e o precioso Fundo Local de publicações vimaranenses, a que se ajunta a hemeroteca e arquivos, entre os quais consta o Foral de Guimarães de 1507 e os exemplares da Revista de Guimarães, publicada desde 1884;e, claro, preciosas coleções de numismática, etnologia e arqueologia.
Destaca-se ainda, sobre a alçada desta instituição o Museu de Arte Castreja, no Solar de Ponte antiga casa de Francisco Martins Sarmento, cujo espólio ligado à cultura celta, prolonga o espaço museológico da Citânia de Briteiros que este explorara.
Porém, não podemos também esquecer o Paço dos Duques de Bragança, um dos espaços mais visitados no país, o Museu do Santo António dos Capuchos, assim como o Aquivo Municipal de Guimarães e muitas das igrejas e capelas da cidade e do concelho, cheias de história e beleza arquitetónica.
Mais recentes e merecedores de referência, embora menos conhecidos, são também o Museu Agrícola de Fermentões, com o seu acervo focalizado no mundo do trabalho artesanal e agrícola, bem como o Museu da Vila de S. Torcato, ligado ao culto do santo e seu mosteiro, bem como à vivência da região.
Igualmente, dignos dos maiores encómios, são o Centro Internacional de Artes José de Guimarães, a Casa da Memória, que surgidos após a consagração de Guimarães como Capital Europeia da Cultura, em 2012.
De facto, não falta diversidade museológica em Guimarães, que é de facto uma cidade-museu, consagrada mundialmente como Património Cultural da Humanidade, desde 2001.
É só escolher …
Alvaro Nunes





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