top of page

Como se viviam as pandemias em Guimarães - Século XVIII e XIX (Cronica de Paulo Freitas do Amaral)


ree

As epidemias que Guimarães atravessou foram mais do que muitas mas gostaria aqui de destacar só algumas que assolaram de forma devastadora a sociedade vimaranense.

A sífilis, a Tinha (espécie de sarna), a Raiva e o Sarampo são doenças infeciosas que estão registadas nos anais da história pelos relatos existentes no Hospital de Guimarães da época. Os relatos que nos chegaram aos nossos dias são principalmente sobre acerca das condições sanitárias e dos tratamentos que se davam aos doentes conforme o “mal” que detinham.

No século XVIII o Hospital da Misericórdia no largo João Franco possuía na Rua da Arrochela, no piso inferior, sem qualquer tipo de acesso a luz, nem ar respirável, os contagiados pela sífilis que eram na altura altamente recriminados pela sociedade em geral com excepção daqueles que tinham “herdado” a doença por via parental.

Esta doença infeciosa da sífilis era vista como fruto de pecado e tinha um estigma terrível por se desencadear nos órgãos sexuais.

Além de haver inúmeros pacientes que se recusavam a ser tratados por vergonha, o hospital detinha uma só hospitaleira que se recusava a “dar as unturas” aos doentes, tal como o hospitaleiro, o que forçou o Hospital a contratar um enfermeiro somente para esta função.

Neste tipo de epidemia eram por vezes internadas famílias inteiras, pais e filhos no piso inferior do hospital. Os únicos tratamentos existentes eram fricções mercuriais (azougues) e também era usada a salsa….A injeção só viria mais tarde…

Em 1839 o hospital impõe um regulamento no que diz respeito à sífilis em que aconselha às famílias um exame médico às partes sexuais, impõe também a vigilância no isolamento a estes doentes e confina as instalações para não haver saídas dos doentes do hospital.

O hospital de Guimarães faz também nesta altura um acordo com o hospital de Braga para prestar tratamento específico desta doença para os pacientes que não fossem oriundos de Guimarães.

As queixas do pessoal médico vimaranense prendiam-se principalmente com o auxílio que tinham de dar a tanta gente vinda de fora do Concelho de Guimarães, ou por “boa fama” dos serviços clínicos vimaranenses ou então por vergonha de as pessoas mostrarem as suas doenças perto das infraestruturas hospitalares onde moravam…

Mas houve muitas outras epidemias em Guimarães como referi tal como a Tinha, a Raiva e o Sarampo que também assolaram a cidade.

O Hospital para estas doenças detinha um apartamento hospitalar, mal vigiado, mas que dava alguma garantia de isolamento ao doente recém-chegado.

Sobre os tinhosos o preconceito social era essencialmente pelo nojo da aparência que a doença dava através da aparição de crostas por todo o corpo….As classes mais pobres eram mais afetadas por este vírus. Os tinhosos andavam marcados com um sinal no pescoço, outrora como os leprosos na gafaria de S. Lázaro que os albergava a cargo da Misericórdia (perto do “Shopping Guimarães”).

Estes doentes que pareciam de Tinha não eram internados no Hospital havendo somente a passagem de receitas para a toma dos remédios.

Em 1850 estes pacientes tinham uma esmola diária de “duas tigelas de caldo e vinte e oito onças de pão de broa”.

No que diz respeito ao vírus da Raiva, não havia qualquer remédio, a vacina só apareceria em 1885 quando o químico Pasteur a inventou. Quem adoecesse em Guimarães não lhe restava solução do que se agarrar à vida espiritual, aliás recomendada pelos médicos.

Na altura havia uma relíquia religiosa chamada “cabeça santa” na igreja da colegiada mais precisamente na capela da sacristia que diziam que quem a tocasse poderia ser curado. O inventário da colegiada em 1527 não refere precisamente a que Santo corresponde o crânio miraculoso, citando: “item, outra arca de marfim, chapeada de arame dourado, aonde está a cabeça de um santo, que presta para mordeduras de cães danados”.

O Sarampo também foi uma doença que assolou bastante Guimarães. No hospital havia “12 capotes vermelhos”, o que não eram mais do que 12 saiotes normalmente utilizados pelas mulheres quando trabalhavam no campo que serviam para envolver os doentes de sarampo pois havia a crença que a cor vermelha, fisiologicamente, atuaria na cura.

Havia também o tratamento através de muitas ervas medicinais de muitas doenças e o sarampo não era exceção. Na próxima crónica farei referências às ervas medicinais que eram utilizadas, divididas pelas freguesias vimaranenses em que eram plantadas.


Até lá, protejam-se!


Paulo Freitas do Amaral – Historiador Licenciado e Pós-graduado

 
 
 

Comentários


© 2023 por O Artefato. Orgulhosamente criado com Wix.com

  • LinkedIn ícone social
  • YouTube
  • Facebook ícone social
  • Instagram
bottom of page