A Santa Casa de Guimarães dividida entre D.Miguel e D.Pedro
- correio_da_historia

- 1 de jun. de 2021
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As lutas liberais e miguelistas em Portugal completaram um ciclo de oito anos no seu total.
Todo o Portugal se dividiu entre apoiantes de D. Pedro e D. Miguel
Guimarães mergulhou nesta luta de forma intensa. Infelizmente é um período pouco estudado em Guimarães mas com grande interesse pois são mais que muitas as peripécias, as batalhas e as estratégias políticas que se deram no berço da nação.
Houve muitas crueldades cometidas; mortos, feridos, bens confiscados, terras abandonadas, roubo, fogo posto, lares desfeitos, etc..etc…

A Misericórdia de Guimarães não foi exceção e talvez tenha tido neste período a fase mais difícil de toda a sua História.
Na sessão da Mesa Administrativa de 1826 foi constatada a afluência de feridos no Hospital, resultado de uma das batalhas mais sangrentas com mortos no Toural e um pouco por toda a cidade, devido a um confronto em plena cidade entre liberais e miguelistas.
O medo assolou toda a cidade e nas semanas consequentes a cidade ficou deserta, tal era o receio das pessoas irem à rua…parecendo que uma pandemia teria chegado a Guimarães….
A Mesa Administrativa confrontada com o auxílio a tantos feridos militares deliberou:
“que se suspendessem as rações e esmolas e mais se não admitissem entrevados e inválidos”
“que se despedissem do Hospital os doentes de queixas venéreas e os incuráveis…”
Mas o que podemos constatar de mais cruel foi a perseguição exercida contra todos quanto fossem de ideologia contrária ou seja despediam-se funcionários e riscavam-se Irmãos conforme fosse liberais ou miguelistas.
Na sessão de 4 de Agosto de 1828 da Mesa por saber-se que os médicos da Misericórdia António Joaquim Ferra de Castro e Manuel José Faria estarem presos por serem liberais foram imediatamente substituídos dos quadros da Santa Casa.
O capelão e o sacristão mor Padre Francisco Xavier Pereira Guimarães foram igualmente substituídos por desafeto a D. Miguel.
Outro capelão do coro chamado Padre António Luís Carvalho Reis por ter ímpetos constitucionalistas foi igualmente “despedido” da Misericórdia.
O boticário vimaranense Teotónio Ferreira da Cunha Carvalho que tomou armas no Porto contra D. Miguel, deixou também de colaborar com a Santa Casa por Ordem da mesa Administrativa.
A 18 de Março de 1829 procedeu-se a uma depuração no rol dos Irmãos. Todo o que era suspeito de ser liberal, era apelidado de maçónico e riscado de Irmão da Misericórdia.
Quando os ventos políticos mudaram, a folha 62 V. do códice 14 foi traçada em trinta linhas, para ocultar os nomes ai escritos, e os dizeres inflamados à causa de D. Miguel.
Mas como a vida dá muitas voltas e a sorte política muda à velocidade da luz, sucedeu-se à perseguição Miguelista, o ajuste de contas Pedrista ou Liberal.
Em 1834 são restituídos aos seus lugares os antigos empregados, o mesmo sucedendo com os irmãos riscados.
No requerimento do Reverendo Francisco Xavier Guimarães referido anteriormente, um dos capelães expulsos, se dá a razão legítima da sua readmissão:
“Não era agora crime o que então tal era apelidado”
O mesmo fundamento é apresentado pelos Irmãos aos quais haviam dado baixa do rol da Irmandade:
“Não podendo esse suposto crime ser causa suficiente para serem riscados…. Acrescendo que tal crime não existia, sendo pelo contrário uma virtude resistirem à usurpação, conservando o juramento de fidelidade prestado à causa legitima da Rainha e que da mesma forma não podiam atender a outras causas, por tudo o que parecia se deviam restituir, como se nunca fossem riscados, ao número dos Irmãos desta Santa Casa”
(arq.da Mis. Códice 14, fis. 138 e 142)
Sem embargo a readmissão foi realizada na sessão imediata.
O período após as lutas liberais continua extremamente complicado pois a causa miguelista instalada na Mesa Administrativa contraiu dívidas em prol do apoio às campanhas militares de D. Miguel.





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