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Regionalismos entre norte e sul de Portugal

Atualizado: 20 de ago.


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Diz-se Pincho ou Salto?


E o aloquete, abre-se com quê?

Portugal é um país pequeno no mapa, mas imenso na variedade da língua.

Como professor de Português e História, tenho o privilégio de assistir todos os dias a essa riqueza que tantas vezes passa despercebida: os regionalismos.

Recentemente, publiquei no YouTube um vídeo dedicado a esse tema.

Dei por mim a explicar que um pincho no norte é apenas um salto — não um petisco basco.

Que um aloquete é o que no sul se chama cadeado, embora a palavra soe, para muitos alentejanos, como um nome carinhoso para um sobrinho.

Que as sapatilhas do norte são, afinal, os ténis do sul — e não sapatos de bailarina, como uma aluna minha do Algarve achava.

E há mais.

estaladiço do norte é o pão do dia; no sul, estaladiço é o som do pacote de batatas.

Um galo na cabeça, no Porto, não pia — dói.

trintim, nos Açores, não é uma onomatopeia, mas sim um porta-chaves.

A primeira vez que ouvi, pensei que era uma espécie de Pokémon.

Estes regionalismos não são erros nem distrações linguísticas. São parte da história viva da língua portuguesa.

Quando dizemos ganapojiga-jogacalcorrearmarmeladabicho-carpinteiro ou estar com os azeites, estamos a falar com sotaque da terra e alma do povo. E isso não é pouco.

Na escola, os alunos adoram descobrir que a língua é feita de cor e de chão. A gramática dá-lhes estrutura, mas são os regionalismos que lhes mostram que a língua tem pele.

Ao rirem-se com as diferenças, aprendem a respeitá-las. Porque há inteligência na diversidade — e identidade também.

É verdade que o português-padrão é essencial para comunicar com clareza, mas a norma não deve ser uma mordaça. Deve ser uma base.

A língua cresce, transforma-se, adapta-se — e os regionalismos são a prova disso.

Por isso, da próxima vez que ouvirem alguém dizer aloquete, não corrijam. Perguntem onde aprendeu essa palavra.

É provável que, nessa resposta, venham histórias de avós, aldeias e memórias. E isso, para quem ama a língua e a História, vale mais do que qualquer manual.


Paulo Freitas do Amaral

Professor, Historiador e Autor

 
 
 

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