Quando a Vila de Monsanto se tornou cenário da série "Game of Thrones"
- correio_da_historia

- 27 de set.
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No coração de Portugal, entre penedos que desafiam o tempo e casas de granito encaixadas na paisagem como se fossem parte da própria serra, Monsanto vive uma nova fama. Esta aldeia, tantas vezes chamada de a mais portuguesa de Portugal, viu o seu silêncio interrompido quando se transformou em cenário de uma das séries mais vistas do mundo: House of the Dragon, o prelúdio da célebre Guerra dos Tronos. De um dia para o outro, as suas ruínas medievais e encostas rochosas tornaram-se parte de Westeros. As câmaras da HBO captaram não só a imponência do castelo, mas a mística ancestral que parece habitar cada pedra desta aldeia suspensa no tempo.
Mas Monsanto não é só ficção. É feita de raízes profundas, de vozes antigas e de ritmos que resistem ao esquecimento. Aqui ainda se ouve o som do adufe, um tambor quadrado tocado por mãos femininas, que embala rezas, cantares e celebrações há séculos. O adufe não é apenas um instrumento. É uma herança. Reconhecido como Património Cultural Imaterial pela UNESCO, representa a força de uma tradição viva, orgulhosamente mantida pelas adufeiras de Monsanto, mulheres que dão corpo e alma à identidade deste lugar. O seu canto ecoa por entre as pedras, como se dialogasse com o passado e lançasse raízes no futuro.
A poucos quilómetros dali, a história continua a sussurrar em Idanha-a-Velha, vila vizinha que guarda mais de dois mil anos de memória. Fundada pelos romanos, foi cidade episcopal no tempo dos visigodos e palco de sucessivas civilizações que deixaram marcas visíveis e palpáveis. Caminhar por Idanha-a-Velha é cruzar séculos: das muralhas romanas ao batistério paleocristão, das ruas empedradas à antiga catedral, tudo aqui respira uma calma antiga, uma nobreza esquecida. É um lugar onde o tempo não passa depressa e ainda bem.
A região de Idanha-a-Nova, que acolhe estas duas joias, tem sabido preservar o seu património sem o aprisionar. Monsanto já tem uma rota inspirada em House of the Dragon e, ao mesmo tempo, projetos culturais e ecológicos enraízam-se no território, como o Boom Festival e as iniciativas da Bio-Região. Entre o real e o imaginário, entre o som do adufe e o voo dos dragões, este recanto do interior português afirma-se como uma terra onde o passado continua vivo e onde o mundo começa finalmente a olhar.
Paulo Freitas do Amaral
Professor, Historiador e Autor





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