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O capitão que morreu numa missão de paz e que se eternizou em Vendas Novas

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Em Vendas Novas, cidade que cresceu à sombra do quartel e que tantas histórias guarda dos homens que por ali passaram, há uma praça dentro da antiga Escola Prática de Artilharia que leva o nome de um oficial tombado na Guiné em 1970. Chama-se Praça Major Passos Ramos, mas para muitos vendanovenses de então ele era ainda o “capitão” que comandava instruções, guiava recrutas e deixava a sua marca de humanidade firme e discreta.

Raul Ernesto Mesquita da Costa Passos Ramos fez parte de uma geração que conheceu a dureza das guerras coloniais. Oficial de Artilharia, serviu em Angola e depois na Guiné. Em 20 de abril de 1970, foi morto numa emboscada quando seguia desarmado para um encontro com o PAIGC — uma missão que pretendia abrir caminho à paz, mas que terminou em tragédia. A notícia caiu como uma bomba em Portugal. Era a prova de que a guerra, apesar das tentativas de diálogo, continuava implacável.

Em Vendas Novas, onde Passos Ramos servira como instrutor e comandante de unidades de instrução na Escola Prática de Artilharia, a sua morte foi sentida de forma muito especial. Os militares e as famílias da terra lembravam-se dele, dos dias de formatura, da exigência profissional e da proximidade pessoal que o tornavam respeitado. Para não deixar o seu nome cair no esquecimento, o comandante da Escola na altura, o Coronel Gaspar Freitas do Amaral, decidiu dar à praça central do quartel o nome do oficial caído em missão de paz. Foi aí que nasceu a Praça Major Passos Ramos, espaço de cerimónias e de memória.

A decisão teve um duplo significado. Era, antes de mais, um tributo ao oficial morto na Guiné. Mas foi também um gesto de pedagogia para as novas gerações de artilheiros que por ali passavam: cada formatura, cada continência, cada passo dado naquela praça evocava a coragem de um homem que representava todos os que deram a vida em África.

Pouco tempo depois, o próprio Coronel Gaspar Freitas do Amaral deixou Vendas Novas para assumir o comando na Guiné, ocupando simbolicamente o lugar deixado vazio pela morte de Passos Ramos. A ligação entre ambos, selada naquele momento, uniu também Vendas Novas à memória de todos os que combateram longe da pátria.

Hoje, passadas décadas, a Praça Major Passos Ramos continua a existir como testemunho de uma época dura e de um homem que morreu ao serviço do seu país. Para os vendanovenses, é mais do que um topónimo dentro do quartel: é a lembrança de que, entre os muitos oficiais que por ali passaram, houve um que, mesmo caído em África, se eternizou em Vendas Novas.

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Paulo Freitas do Amaral

Professor, Historiador e Autor

 
 
 

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