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Lisboa, o simbolismo iniciático que Pombal escondeu



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Lisboa não foi apenas reconstruída depois do terramoto de 1755 — foi reinventada. A Baixa Pombalina ergue-se como um tabuleiro de geometria perfeita, mas também como um enigma. O que parece racionalidade iluminista pode ser lido como um código de iniciação: praças que se tornam templos, ruas que se transformam em rituais de passagem e fachadas que revelam discretamente apertos de mão e símbolos que pertencem a uma linguagem secreta.

Sebastião José de Carvalho e Melo, o futuro Marquês de Pombal, não era um homem isolado no seu tempo. Em Londres conviveu com a aristocracia britânica, mergulhada na efervescência da maçonaria especulativa após 1717. Em Viena, como lembra Braga Gonçalves no Maçon de Viena, frequentou salões onde diplomatas, músicos e pensadores trocavam ideias iluministas em ambientes de sociabilidade discreta. Não é coincidência que Mozart, iniciado em 1784, tenha inscrito a maçonaria na sua Flauta Mágica — a mesma atmosfera cultural que rodeava o círculo em que Pombal se movia.

Carlos Mardel, o engenheiro húngaro que desenhou parte da Lisboa reconstruída, é outra peça desse mosaico. Estrangeiro, formado no coração da Europa central, esteve próximo de círculos maçónicos e trouxe consigo saberes técnicos que se fundiram com uma visão simbólica do espaço. A sua marca, aliada ao espírito reformador de Pombal, fez nascer uma cidade que é ao mesmo tempo moderna e iniciática.

Hoje, ao atravessar a Praça do Comércio, ao passar sob o Arco da Rua Augusta ou ao observar os relevos discretos das fachadas, é possível entrever sinais: o aperto de mão que ecoa rituais de fraternidade, o olho vigilante, o compasso e o esquadro dissimulados como ornamento. Para uns, meros caprichos decorativos; para outros, provas do simbolismo que Pombal escondeu sob a pedra e a cal da sua cidade.

Lisboa tornou-se, assim, mais do que uma capital reconstruída. É um livro de símbolos aberto, um espaço iniciático em que a racionalidade e o mistério se entrelaçam. Quem passeia pela Baixa sem saber, vê ruas; quem conhece a linguagem oculta, atravessa um templo.

Paulo Freitas do Amaral

Professor, Historiador e Autor

 
 
 

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