Largo do Serralho, o antigo sítio dos judeus e da cadeia em Guimarães
- correio_da_historia

- 4 de out. de 2021
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Olha-se de fora e parece um prédio banal. Uma obra de 1950 que criou um edifício moderno num dos largos mais escondidos do centro histórico da cidade. As paredes exteriores são altas, brancas, as janelas relativamente pequenas. O único motivo para repararmos nele talvez pudesse ser o facto de ser tão distinto das casas baixas, de arquitectura tradicional, que estão ao seu lado. O primeiro sinal de que há aqui alguma coisa de especial são as paredes de granito que aparentam ser muito antigas. Parecem uma muralha e percebe-se depois o motivo de terem esse aspecto de fortaleza. É que este prédio de aparência moderna no largo do Serralho tomou o lugar de uma casa-torre, uma espécie de casa de pequena nobreza fortificada, que surgiu no norte de Portugal entre os finais do século XII e a primeira metade do século XIII. Depois de cruzarmos uma pequena abertura, encontramos o elemento mais interessante de toda essa estrutura: um arco, com o interior apontado e o exterior biselado, com mais de 3 metros de altura. Neste espaço funciona agora um gabinete de arquitectura e engenharia. Até 2010, quando ali foi feita uma obra de restauro, não se conhecia a existência deste interessante elemento, escondido atrás do reboco das paredes da habitação fortificada. Este arco era uma das portas da casa-torre. A outra estava virada para o largo, mas não resistiu à reconstrução do prédio em meados do século passado - ainda existe um desenho de António Lino na colecção da Sociedade Martins Sarmento que o representa. O edifício torre tinha planta quadrangular e uma área de aproximadamente 50 metros quadrados e teria elementos de defesa nos pisos superiores. Séculos mais tarde, terá sido integrada na casa do Morgado dos Almeida (onde funcionou a Galeria Gomes Alves) com a qual confronta precisamente o arco que aaui destacamos. Não há registos históricos que permitam identificar quem viveu nesta casa-torre, mas esta encontra-se na área da cidade onde, durante largos anos, esteve concentrada a comunidadd judaica em Guimarães, sobre a qual existem referências escritas ao longo dos séculos XIV e XV, até à expulsão dos judeus de território português. O largo do Serralho, onde se encontra este prédio, é popularmente referido por vezes como a judiaria, ainda que, na verdade, a comunidade judaica na cidade se organizasse numa área bastante mais vasta. A comunidade vivia na actual rua António Mota Prego, que faz ligação entre a praça Santiago e o Largo da Misericórdia que terá em tempos sido chamada rua da judiaria, confrontando com a rua escura (hoje Gravador Molarinho) e Val-de-Donas, tendo um forno próprio e uma sinagoga, que ficaria situada mais ou menos no local onde hoje está o monumento de homenagem a João Franco.
Desse tempo, não existem, porém, grandes vestígios conhecidos em Guimarães. Apenas o muro que delimita o pátio exterior do Tribunal da Relação poderá ser levemente relacionado com a judiaria, uma vez que pertencia à cadeia da Correição, localizada nos limites onde viviam os judeus vimaranenses.
Fonte: Guimarães Top Secret






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