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Discurso evocativo de Diogo Freitas do Amaral (Crónica de Paulo Freitas do Amaral)


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O meu discurso na missa de 7 dia do meu primo Diogo Freitas do Amaral


Exmo. Sr. Monsenhor, Sr. Capelão da Santa Casa, Sr. Presidente da Câmara de Guimarães, Sr. Provedor da Misericórdia, responsáveis máximos e representantes de todas as entidades aqui presentes, irmãos da Misericórdia, vimaranenses


Conheci o meu primo Diogo desde que me lembro de mim…foi uma presença constante durante toda a minha vida e a sua generosidade, inteligência e coragem foram sempre para mim as qualidades que mais admirei na sua personalidade…


As tardes da minha infância que passava entre a Fundação Adelino Amaro da Costa, a Fundação Sec. XXI e a sede do CDS no Largo do Caldas fizeram entranhar em mim a admiração pelo Homem a quem apelidaram com a sua morte como um dos Pais da Democracia.


A mesma admiração e contemplação pela personalidade do primo Diogo com os meus filhos viram o batalhão de fotógrafos no Mosteiro dos Jerónimos, com que viram as reportagens sobre a sua vida na televisão, com que presenciaram à enorme quantidade de abordagens que tiveram dos seus amiguinhos na escola por ocasião do seu falecimento ou com que viram o Presidente da República de voz embargada e de lágrima ao canto do olho a decretar um dia de luto nacional …. são semelhantes à admiração e estupefação que eu tive pelo Homem que se candidatou a Presidente da República quando tinha apenas a idade de 8 anos; a avenida da liberdade cheia de gente até se perder de vista no horizonte, a euforia dos carros a buzinar insistentemente toda a noite nas ruas da capital, o hino memorável da campanha ou os famosos chapéus de palha….uma campanha muito difícil de se repetir em Portugal.


Passados mais de trinta anos, Portugal manifestou pela 2ª vez uma verdadeira atitude de carinho por uma personalidade carismática, de sorriso aberto, mais de trato fácil em termos pessoais do que aparentava na TV e de uma enorme educação e cultura.


O meu pai, solteiro até aos 50 anos, foi durante quase uma vida o seu 2º pai, tendo influenciado o meu primo Diogo culturalmente e em gostos como a equitação, o gosto por um simples mergulho no mar ou fazer um pino na praia ou por uma boa conversa explicando as constelações no céu.


Quando o meu pai faleceu com 16 anos, o meu primo Diogo ofereceu-se para ser meu tutor, foi a primeira prova de generosidade dele, seguidas de muitas outras durante a vida…o verdadeiro segundo pai…para mim…para o meu irmão…para a minha mãe e irmãs….


Tive o privilégio de ter bastantes conversas com ele sobre tudo, história, politica, geografia, música….tudo…os seus mais de 56 livros (não sei se apurei bem este número) revelam bem a capacidade de trabalho que detinha…


Não vou perder muito tempo a abordar o que fez a nível nacional porque é sobejamente conhecido,a presidência da Associação de estudantes da Faculdade de Direito de Lisboa, a fundação do CDS, a criação da AD, as funções de ministro da defesa, dos negócios estrangeiros, de vice-primeiro ministro, de primeiro-ministro interino, da Presidência da Assembleia das Nações Unidas, de presidente europeu das democracias cristãs, de fundador do curso de direito da universidade nova, de catedrático distinto da Universidade clássica e de assistente de Marcelo Caetano na Universidade (e de mesmo período ter tido a clarividência de ter recusado um convite para ser seu ministro na ditadura).


A luta do meu primo era pela democracia, disse esta frase milhares de vezes quando inúmeros grupos de extrema-direita armados, no pós 25 de Abril lhe vinham com a conversa de realizar um golpe de estado ou então quando combinava estratégias com Mário Soares sobre a forma de travar a ditadura comunista conforme podemos ler no seu livro de memórias.

Como disse o meu primo Domingos Amaral na Igreja dos Jerónimos e numa bonita intervenção que será amanhã no Jornal Expresso “Eu não sabia que tinha uma irmã, chamada Democracia e que era a que dava mais dores de cabeça ao meu pai porque não era bem como ele a queria…era rebelde, inquieta….mas como um bom pai, ele era apaixonado pela minha irmã…”


Gostaria aqui de referenciar o papel que teve em Guimarães de preservar e impulsionar diversas iniciativas e Instituições, seguindo a tradição de muitas das gerações da sua família que desempenharam funções na Câmara Municipal, na Colegiada, em S. Domingos, na Misericórdia e na Sociedade Martins Sarmento.


Mas o meu primo não se ficou por aqui e acompanhava muito da atualidade vimaranense como é exemplo o papel fundador que teve junto da Grã Ordem Afonsina em Guimarães.


O meu primo Diogo ajudou Instituições em situações muito difíceis, não pelo seu legado familiar, de ter tido um pai deputado da nação por Guimarães, um avô presidente da câmara, 3 avôs provedores da Misericórdia, 1 Juiz dos Velhos Nicolinos, 1 presidente da Sociedade Martins Sarmento, etc…etc…Não era isso que o norteava como se viu pela opção humilde de ter sido enterrado na terra, no cemitério mais perto dos seus filhos sem partilhar o jazigo com os seus nobres antepassados em Guimarães.


Mas voltando às Instituições tratou de assuntos relacionados com o Vitória de Guimarães até à colaboração que deu como proponente principal para a existência do Campo da Ataca em Aldão. Sem esquecer ainda toda a colaboração a nível da capital europeia da cultura Guimarães 2012 como membro da Fundação criada para o efeito.


O meu primo, medalha de Ouro da Cidade de Guimarães, colaborou ainda com a Sociedade Martins Sarmento por diversas vezes, onde é sócio honorário e casou a sua filha Filipa na colegiada de Guimarães na década de 90.


Um grande préstimo à sociedade vimaranense foi o caso da Misericórdia de Guimarães em que sanou as suas contas devido à sua ação como Presidente da Assembleia Geral, junto do ministro das finanças da altura. A nível municipal doou o seu espólio documental pessoal ao Arquivo Municipal e auxiliou o Município sempre que foi solicitado ou consultado para isso em diversos assuntos. A amizade que teve como todos os presidentes da câmara , Manuel Ferreira, António Xavier, António Magalhães e Domingos Bragança são prova de que além de um político, existia um Homem e um amigo que queria o melhor para a sua terra e que o seu partido era em primeiro que tudo; Guimarães e Portugal.


Desde assuntos relacionados com o Vitória de Guimarães até à colaboração que deu como proponente principal para a existência do Campo da Ataca em Aldão. Sem esquecer ainda toda a colaboração a nível da capital europeia da cultura como membro da Fundação criada para o efeito.


É importante referir também todo o seu papel desempenhado para a Universidade do Minho se sediar em Guimarães, papel aliás muito bem descrito no artigo escrito pelo Sr. Eng. Monteiro de Castro no Comércio de Guimarães na edição desta semana. Trabalho aliás iniciado com o seu pai e meu tio, Eng. Duarte do Amaral, deputado da nação por Guimarães, fundador da Associação Assembleia e responsável por muita obra pública ainda existente em Guimarães construída durante o século XX.

O meu primo Diogo ainda teve um importante papel na continuidade da existência dos congressos históricos de Guimarães iniciados também eles pelo seu pai em 1978.


Como membro do Governo, Guimarães e a sua ação política cruzaram-se diversas vezes…a questão da elevação de Vizela foi decerto a mais amarga….na altura muito antes do ano da separação de Vizela do Concelho de Guimarães, por volta de 1980. Quando era ministro da AD, o meu primo Diogo por manifestar uma opinião contrária à separação de Vizela do concelho de Vizela, a minha família aqui em Guimarães chegaram a ter a casa guardada pela GNR para nossa própria segurança….não lhe foi certamente uma questão tão difícil de lidar como aquelas que teve em Lisboa, onde chegaram até a rebentar umas bombas na sua casa durante o Verão quente mas certamente que também não foi fácil…

Mas também houve episódios bons e onde o destino fez cruzar Guimarães no seu caminho como foi o caso da entrega do prémio das sete maravilhas nacionais ao Castelo de Guimarães quando desempenhava o cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros no XVII Governo da Republica.


Certamente nos bastidores da política, e temos alguns protagonistas presentes aqui hoje, houve também troca de correspondência onde certamente nos cargos que o meu primo Diogo exerceu, houve uma preocupação constante com Guimarães.


Nas funções que hoje exerço como mesário da Santa Casa, é gratificante ouvir o funcionário mais antigo da Instituição, o Sr. Salgado, a dizer que tudo o que sabe acerca da elaboração das atas foi o meu primo que o ensinou ou então ouvi-lo a dizer que o meu primo respondia a todas as cartas mesmo àquelas que insultavam a Instituição e os seus responsáveis. Costumava dizer que toda a carta tem que ter uma resposta.


De forma semelhante é também gratificante ouvir o meu Provedor Eduardo Leite a querer melhorar o funcionamento atual da Santa Casa baseado em pareceres administrativos do meu primo Diogo que facilitam o dia-a-dia da Instituição.

Este é o legado que o meu primo nos deixa; um legado de amor ao próximo baseado na fé da Igreja Apostólica Romana, um amor a Guimarães e a Portugal.


Agora no Céu, como disse o meu primo Domingos, é a hora do meu primo ter as conversas com os seus Heróis e amigos, o Aristóteles, o Platão, o Kant e de reencontrar o seu grande amigo Adelino Amaro da Costa, Sá Carneiro e até Mário Soares de quem foi muito amigo até à última hora.


Nunca irei esquecer a sua generosidade, a sua coragem e a sua inteligência. Decerto ficámos todos mais pobres com a sua morte mas se o tivermos como exemplo, ficaremos no futuro mais rico.


Obrigado a todos.



 
 
 

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