Descoberto passado de 8500 anos na Dinamarca

Nas águas tranquilas da Baía de Aarhus arqueólogos exploraram este verão um passado que parecia perdido para sempre. A aproximadamente oito metros de profundidade surgiram restos de um assentamento costeiro do período Mesolítico com cerca de 8 500 anos a contar-se desde hoje.

Através de um projecto internacional financiado pela União Europeia num investimento de 13,2 milhões de euros foi possível mapear o fundo do mar Báltico e do Norte e assim revelar vestígios de civilizações antigas desaparecidas sob as águas Mergulhadores periféricos começaram a encontrar ossos de animais, instrumentos de pedra, pontas de flechas, um dente de foca, um pequeno pedaço de madeira trabalhada e até avelãs.

Este achado funciona como uma cápsula do tempo tal como descreveu o arqueólogo Peter Moe Astrup a liderar as escavações . A preservação notável deve-se ao ambiente sem oxigénio, imerso no sedimento, que impediu a decomposição dos materiais orgânicos.

A paisagem mudou radicalmente após o fim da última Idade do Gelo e o elevado derretimento dos glaciares elevou o nível do mar. Cerca de 8 500 anos atrás o mar subiu cerca de 2 metros por século. Com isso populações costeiras foram forçadas a migrar para o interior à medida que o litoral desaparecia sob as ondas.

Os investigadores, usando técnicas de datação através de anéis de árvores (dendrocronologia), conseguem precisar quando o nível do mar começou a soterrar estas áreas. Troncos de árvores, agora submersos, permitem reconstruir com precisão a cronologia da subida das águas.

Mais do que apresentar este sítio como troféu arqueológico, os responsáveis sublinham que há uma mensagem muito actual nesta história. A forma como sociedades humanosas adaptaram-se às alterações costeiras há milénios pode ajudar-nos a reflectir sobre os problemas que enfrentamos em pleno século xxi com a subida das águas provocada pelas alterações climáticas.

Paulo Freitas do Amaral

Professor, Historiador e Autor