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As Mulheres Vikings e a Arte da Guerra

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Durante séculos, os manuais de história transmitiram-nos uma imagem simplificada do universo viking: homens rudes e destemidos, navegando em dracares por mares revoltos, brandindo machados e espadas em busca de conquista e glória. Mas a História raramente se deixa aprisionar por estereótipos. Hoje, graças à arqueologia e à investigação histórica, sabemos que o mundo viking era mais plural — e que, nele, as mulheres não ficaram confinadas ao silêncio das casas nem à sombra dos guerreiros.

As sagas islandesas e os poemas escaldos falam-nos das shieldmaidens, mulheres que empunhavam armas e combatiam em pé de igualdade com os homens. Durante muito tempo, estas figuras foram lidas como construções míticas, metáforas poéticas de coragem e sacrifício. Contudo, em Birka, na Suécia, a terra guardou uma verdade esquecida: um túmulo ricamente equipado com espadas, lanças, cavalos e peças de estratégia militar pertencia, afinal, a uma mulher. A análise genética não deixou margem para dúvidas — aquela guerreira fora em vida uma comandante.

Este achado não é um caso isolado. Outras sepulturas nórdicas revelaram ossadas femininas acompanhadas de armas e insígnias militares. A arqueologia veio, assim, confirmar o que a tradição oral preservara em forma de lenda: houve mulheres que combateram, que lideraram, que se inscreveram na epopeia viking não como figuras marginais, mas como protagonistas de carne e osso.

Importa compreender esta realidade à luz da sociedade escandinava. Entre os povos do Norte, as mulheres gozavam de direitos incomuns no contexto medieval europeu: podiam herdar, gerir propriedades, divorciar-se. O passo para a guerra, ainda que excecional, não lhes estava interdito. Em tempos de crise, ou em expedições de risco, o braço armado feminino podia ser não apenas tolerado, mas necessário.

Não se trata, contudo, de imaginar exércitos de valquírias a povoar os campos de batalha. A presença feminina foi sempre minoritária. Mas o mito das shieldmaidens e a memória das guerreiras vikings dizem-nos muito sobre a forma como esta civilização entendia a coragem: não como atributo exclusivo de um sexo, mas como virtude partilhada.

Assim, a História, quando revisitamos as suas camadas, revela-nos que a bravura nórdica vestia tanto a armadura do homem como a da mulher. E que, no gume das espadas vikings, não se inscreveu apenas a força de um povo, mas também a liberdade de quem ousou quebrar fronteiras sociais.


Paulo Freitas do Amaral

Professor, Historiador e Autor

 
 
 

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