As esculturas que Salazar chumbava e a sua ignorância histórica
- correio_da_historia

- 22 de abr. de 2023
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Durante 48 anos de ditadura, o povo português habituou-se a contemplar esculturas que eram aprovadas diretamente pelo punho do ditador. São muitos os casos conhecidos em que o próprio ditador chumbou projetos escultóricos que não exaltavam, na sua perspetiva, os heróis da nossa História. No caso do ditador Salazar, o seu gosto estético ainda influencia uma parte, felizmente pequena, do povo português. Salazar colocava o objetivo político de uma forma prioritária face ao objetivo artístico. Neste processo de escolhas de esculturas durante o “Estado Novo” podemos verificar algumas características dos pilares que sustentavam o regime; o autoritarismo, a exaltação exagerada da nossa História, a inexistência de liberdade, a censura, a concentração de poder entre muitas outras. A título de exemplo posso mencionar a forma como Salazar chumbou várias vezes, ao longo de mais de vinte anos, os projetos levados a concurso público para o Padrão dos descobrimentos. Os chumbos de Salazar são demonstrativos da inexistência de Liberdade e da sua mentalidade tacanha em relação à arte. O historiador José-Augusto França quando é citado pela historiadora de arte Lúcia Almeida Matos, no seu livro “Escultura em Portugal no Século XX,1910-1969”, lamentava no ano de 1957, ter-se perdido “a primeira oportunidade de haver em Portugal uma amostra de arquitetura viva, honrada e atual”. Por outro lado, é curioso verificar que o círculo próximo de Salazar confirmava na altura que o ditador desconhecia algumas personagens da História de Portugal. Um exemplo disso mesmo é a célebre história do seu Secretário, hoje função conhecida como “Chefe de Gabinete”, ter proposto a criação de uma estátua em homenagem a Mumadona Dias em Guimarães, hoje existente, e Salazar ter perguntado “Quem é essa?” Este episódio é bem demonstrativo das debilidades do Presidente do Conselho de Ministros em certas matérias históricas…e que de forma incoerente se arrogava de “cortar e riscar” noutros projetos de exaltação histórica. No entanto, este modelo de aprovação “unipessoal”, do ditador foi repudiante em si mesmo; a inexistência de Liberdade artística, a inexistência de Liberdade de quem contempla, a inexistência de um sistema onde haja Liberdade de representação da Humanidade dos Heróis, tanto nas suas fraquezas como nos seus atributos. Este passado de ditadura é em si mesmo algo que nos devia envergonhar como povo e jamais formatar o nosso pensamento como “consumidores” de arte. O tempo do Salazar foi lá trás e a Liberdade está aí para todos…
Paulo Freitas do Amaral





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