A importância da freguesia de Dume em Braga para a fundação de Portugal
- correio_da_historia

- 30 de set.
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A pequena freguesia de Dume, nos arredores de Braga, guarda uma herança de valor excecional para a compreensão da génese do reino cristão de Portugal. Muito antes de a nação surgir formalmente no século XII, Dume já desempenhava um papel central na afirmação religiosa e cultural do noroeste peninsular. Foi aí que se consolidaram bases espirituais, organizacionais e identitárias que se revelariam fundamentais para a formação da futura monarquia portuguesa.
A figura de São Martinho de Dume, vindo da Panónia no século VI, é incontornável. Bispo e missionário, teve a missão de converter o povo suevo ao catolicismo, numa época em que este reino se encontrava dividido entre a heresia ariana e a tradição cristã. Em Dume, São Martinho fundou um mosteiro que se tornaria centro de vida espiritual, intelectual e cultural, irradiando a fé católica para toda a região. A sua ação foi decisiva para integrar os suevos no quadro da Igreja romana, assegurando assim a unidade religiosa necessária a qualquer poder político duradouro.
A continuidade deste legado verificou-se na ação de São Frutuoso, outro grande bispo bracarense do século VII. Fundador de vários mosteiros e reformador da vida monástica, São Frutuoso consolidou a autoridade e a disciplina da Igreja na região, em estreita ligação com a tradição visigoda. O famoso templo de São Frutuoso de Montélios, ainda existente, é testemunho arquitetónico e espiritual de uma época em que Braga e Dume eram polos centrais do cristianismo na Península Ibérica.
Estes homens, e muitos outros bispos e monges de Dume, foram responsáveis por criar uma sólida estrutura eclesiástica que sobreviveu à ocupação muçulmana e que, mais tarde, seria retomada e fortalecida durante a Reconquista. A ligação entre o poder espiritual de Braga e os futuros condes e reis portucalenses não pode ser dissociada da herança suevo-visigótica de Dume, onde a fusão de povos e culturas encontrou unidade na fé cristã.
Assim, a freguesia de Dume não é apenas um lugar histórico, mas um dos alicerces da nacionalidade. O cristianismo que ali floresceu tornou-se elemento identitário e motor da coesão social e política, fornecendo a matriz sobre a qual se ergueria o reino de Portugal. Com razão se pode afirmar que, sem Dume e sem a obra dos seus bispos, a fundação de um reino cristão independente a oeste da Península teria sido bem mais difícil e talvez até impossível.
Paulo Freitas do Amaral
Professor, Historiador e Autor





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