Quando os alemães derrotaram os portugueses em África
- correio_da_historia

- 24 de set.
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Atualizado: 25 de set.

Durante a Primeira Guerra Mundial, a África tornou-se palco de confrontos muitas vezes esquecidos, onde portugueses e alemães se defrontaram longe da Europa. Portugal, apesar de inicialmente neutro, viu-se envolvido devido à pressão internacional e aos interesses estratégicos nas suas colónias de Angola e Moçambique.
No sudoeste de Angola, as tropas portuguesas enfrentaram o Sudoeste Africano Alemão. Em outubro de 1914, as localidades de Cuangar e Naulila foram palco de combates sangrentos. No massacre de Cuangar, uma guarnição portuguesa foi surpreendida e dizimada pelos alemães. Em Naulila, a 18 de dezembro de 1914, cerca de 70 soldados portugueses perderam a vida num embate devastador. A derrota trouxe não só a perda de homens, mas também o abandono temporário de territórios fronteiriços, deixando marcas profundas na moral das tropas e nas comunidades coloniais. Estes confrontos iniciais revelaram as fragilidades logísticas e de preparação do exército colonial português.
Em Moçambique, a situação tornou-se ainda mais dramática com a entrada direta da Alemanha em conflito contra Portugal em 1916. Paul von Lettow-Vorbeck, comandante alemão de renome, liderava forças compostas por soldados alemães e askaris africanos altamente disciplinados. A Batalha de Negomano, a 25 de novembro de 1917, foi um dos confrontos mais emblemáticos: as forças portuguesas foram praticamente destruídas, com centenas de prisioneiros capturados e uma humilhação militar que se refletiu na memória do país.
As condições de combate eram extremas. Soldados portugueses enfrentavam doenças tropicais, escassez de alimentos, equipamento inadequado e terreno hostil. As rações eram muitas vezes limitadas a sardinha e feijão em conserva, complementadas por improvisações nas fogueiras das trincheiras. O calor, a lama, os insetos e a doença testavam diariamente a resistência física e psicológica das tropas.
Apesar da derrota, estes combates tiveram impacto estratégico: obrigaram as forças alemãs a dispersarem-se e atrasaram incursões em territórios aliados. Hoje, os locais de batalha e os cemitérios onde repousam soldados portugueses, como o de Richebourg-l’Avoué em França, e outros espalhados pela Flandres, lembram o sacrifício e a coragem de quem enfrentou adversários bem treinados e superiores em equipamento. Em África, os portugueses encontraram não só inimigos, mas a dureza da geografia, do clima e de uma guerra global que parecia longe de casa, mas que marcou para sempre a história militar de Portugal.
Paulo Freitas do Amaral
Professor, Historiador e Autor





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