15 mortos no Toural e muitos outros cadáveres espalhados por Guimarães- 1828
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- 15 de abr. de 2023
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15 mortos no Toural e muitos outros cadáveres espalhados por Guimarães - 27/6/1828 (Crónica de Paulo Freitas do Amaral)
A guerra civil portuguesa entre Liberais e Absolutistas que opunha D.Pedro IV a D. Miguel durou cerca de meia dúzia de anos de 1828-1834 e fez milhares de mortes pelo país.
Guimarães não foi excepção. Durante o ano de 1828, Guimarães foi palco de fortes movimentações militares, onde se concentraram regimentos e milícias vindos das mais afastadas regiões do país.
De noite eram as milícias que percorriam as ruas de Guimarães gritando vivas a D. Pedro IV, a D. Maria II e à Carta Constitucional.
Durante o dia, eram as guerrilhas que no Largo do Toural soltavam vivas a D. Miguel, à Imperatriz-Rainha, à Casa de Bragança e à Igreja.
O dia-a-dia em Guimarães era tenso e a desconfiança reinava entre gentes pouco dadas a entendimentos. Mas o auge desta tensão em Guimarães deu-se na última semana do mês de Junho de 1828 numa das mais sangrentas semanas que os vimaranenses viram...
A 23 de Junho D. Miguel reúne cortes e é proclamado Rei absolutista no Palácio da Ajuda em Lisboa ...Logo no dia seguinte, dia 24, entram em Guimarães comandados pelo Coronel Caiola cerca de 1500 homens fiéis a D. Pedro IV e logo se reúnem no Toural e ocupam a Irmandade de S. Domingos aprisionando e torturando os frades ali residentes, sendo alguns feridos e enviados para o Porto.
Entretanto os "realistas" fiéis a D. Miguel, comandados pelo Coronel Raimundo José Pinheiro, três dias após a chegada deste regimento constitucionalista a Guimarães, no dia 27 de Junho entre as 17h e as 18h conseguem reunir esforços entre soldados provisórios, guerrilheiros, milícias,etc... e atacam o regimento liberal de forma desprevenida no Largo da Misericórdia enquanto o comandante passava revista.
A contra ofensiva Miguelista ao ataque a S. Domingos deu-se pela ruas chamadas na altura de trás-os-montes, S. Domingos e Molianas, em direcção ao Toural, tendo havido cerca de 15 miguelistas e liberais que foram atingidos mortalmente no Toural.
Houve também mortos espalhados por várias imediações do centro histórico e também fora da cidade de Guimarães.
A cidade de Guimarães encheu-se de terror tendo ficado praticamente deserta nos dias que se seguiram.
As forças Miguelistas recuaram e reagruparam em Braga enquanto os homens de D. Pedro IV , denominados por Corpo de Voluntários Académicos fizeram acampamento em Guimarães no monte do cavalinho (na altura conhecido como o monte da forca).
Na madrugada do dia seguinte, dia 28, desceram do Monte Cavalinho à cidade alguns piquetes da tropa constitucional para recolher e transportar alguns feridos, tendo aproveitado para deitar fogo à Casa do Proposto, de Fortunato Cardoso, por ter sido conivente com o ataque dos Miguelistas às tropas liberais.
Os relatos da quantidade de mortos "uns em tumba, outros em padiola" que deram entrada na Misericórdia de Guimarães causou horror entre a população.
Foi uma guerra sangrenta entre conterrâneos que colocou amigos contra amigos, irmãos contra irmãos mas que não conseguiu destruir o nosso espírito de luta por um país melhor onde cabem actualmente todos independentemente da sua ideologia, credo ou opção sexual.
Passados quase 200 anos, podemos-nos orgulhar que construímos um Portugal igual a nós mesmos e que somos capazes de ultrapassar qualquer guerra que nos desafie.
Paulo Freitas do Amaral
Historiador Licenciado e Pós-graduado





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